segunda-feira, 5 de abril de 2010

Mozer, em "Pela Mística Dentro"



Para os adeptos de outros clubes.......um cheirinho INFERNAL!!!!










"É preciso sair do país para enxergar o prestigio e o tamanhão do Benfica
Em todo o mundo. Estive três anos em frança, no Marselha, joguei num estádio
fantástico, o Vélodrome, convivi com grande jogadores como Papin e Waddle,
mas o Benfica estará sempre no meu pensamento.
Os meus companheiros de equipa não percebiam muito o meu entusiasmo pelo
clube, já que sabiam pouco do futebol português, embora reconhecendo o
tremendo historial do Benfica.
Durante os primeiros tempos tive de aturar os comentários de Papin, logo
desde o inicio, sempre que jogávamos em casa.
Uns dias antes de cada jogo, o Papin chegava para mim e me dizia: "Mozer,
vais ver o que é um estádio cheio e um ambiente terrível." Terrível para os
outros. Não sei se o se o Papin dizia isso para me intimidar, já que era
novo no clube e não percebia muito daquela conversa. Mas para mim, sempre
pensava: "Este cara precisava de jogar no Maracanã ou no estádio da Luz,
cheios." Era o que eu pensava.
Até que, na taça dos campeões, nas meias-finais, o Benfica calhou no caminho
do Marselha. Fiquei, ao início, desgostoso, porque ia defrontar o meu
Benfica, o clube que os meus companheiros sabiam que eu adorava. Me lembro
de Sauzée, o meu zagueiro do lado me ter perguntado: "Você vai estar em
condições de jogar contra o Benfica?" Aí, senti que beliscavam o meu
profissionalismo. Nos dois, jogos joguei a duzentos por cento.
Depois do primeiro jogo, em Marselha, uns dias antes de jogarmos na Luz,
virei para o Papin e lhe perguntei: " Papin, voçê quer mesmo ver o que é um
estádio cheio, com 120 mil a gritar todos para o mesmo lado?" Engraçada a
reacção do Papin: "Voçê, está querendo me meter medo, Mozer?" Não estava não
e por isso lhe disse para esperar para ver. E já agora, tremer. Pois bem,
chegou o dia, chegámos no estádio da Luz e fomos logo indo para os
balneários. Muitos risos, muita convicção de que íamos jogar a final da Copa
dos Campeões. Lembro até que Tapie disse aos jornalistas franceses que lhe
podiam chamar de Bernardette se o marselha perdesse a eliminatória.
Antes de subirmos ao relvado, para o aquecimento, Papin ainda troçou de mim,
dizendo que estava já "tremendo de medo". E ria-se bastante.
Os jogadores foram saindo do balneário e eu atrasei um pouco, porque estava
colocando uma ligadura no tornozelo. Quandio cheguei perto do túnel de
acesso ao estádio, começo a ver os meus companheiros, compeletamente
assustados e todos do lado de dentro, não querendo entrar. Só depois percebi
que, nessa altura o Eusébio foi chamado ao relvado para receber uma
homenagem e foi aí que o estádio quase vinha abaixo. Logo no momento em que
os meus companheiros do Marselha se preparavam para entrar. Claro que
voltaram atrás assustados e me perguntado: "O que era aquilo?".
Aquilo respondi eu, é o INFERNO DA LUZ. Aí todos me começaram a me dizer
para ser eu o primeiro a avançar, subi as escadas, entrei no relvado, não
fui mal recebido e quando olhei para trás, estava sózinho. Espreitando, à
saida da escadaria estavam alguns dos meus companheiros do marselha, ainda
com um olhar de medo e só nessa altura começaram a entrar. No regresso às
cabinas, perguntei a Papin: "Já sabes agora o que é um estádio cheio e um
grande ambiente?" A resposta, nunca mais a esqueci: "Mozer, nunca vi uma
coisa destas. Tudo isto é incrível. Sempre tiveste razão, o Benfica é
ENORME!" Naquela noite, o Marselha perdeu, fiquei triste mas senti orgulho
pelo Benfica. E já agora, naquele balneário, fui o único a ter uma vitória.
Foi uma vitória moral, sobre aqueles que não acreditavam na grandeza do
Benfica."



José Carlos Mozer





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